Dona Raimunda pede aos políticos urgência na reforma agrária
Nós somos milhares de Raimundas aqui no Estado do Tocantins. Com esta frase, dona Raimunda estendeu às demais quebradeiras de coco da região do Bico do Papagaio a conquista do título de Cidadã Tocantinense. A homenagem ocorreu durante a sessão solene da manhã de hoje, dia 6, a pedido do deputado José Santana (PT), autor do projeto de lei.
Dentre outros pedidos, dona Raimunda foi veemente ao solicitar aos políticos que façam a reforma agrária, mas com toda a infra-estrutura e não só com um pedaço de terra. Dona Raimunda é maranhense, reside em São Miguel do Tocantins, é coordenadora geral do Conselho de Mulheres Extrativistas e presidente do Memorial Chico Mendes.
O autor do projeto que deu origem à homenagem a dona Raimunda ressaltou sua luta em prol da luta dos trabalhadores. Dona Raimunda é um ícone da luta do homem e da mulher trabalhadora do norte do Estado na defesa do meio ambiente e dos trabalhadores rurais sem terra. Ela representa um segmento dos que resistiram à dificuldade da pobreza e da migração dos Estados mais pobres, disse Santana.
O deputado acrescentou que dona Raimunda ajudou a organizar os trabalhos em defesa do meio ambiente nas décadas de 70 e 80, quando ainda o tema era muito jovem no País. Já a quebradeira de coco lembrou que sua atuação é natural, pois quem é extrativista preserva a natureza, porque dela vive, salientou.
José Santana discursou durante a homenagem, resgatando, na força do povo do Bico do Papagaio, a imagem do sertanejo hércules-quasímodo euclidiano. O sertanejo é, antes de tudo, um forte, observara o escritor Euclides da Cunha. Leia abaixo alguns trechos do discurso:
Hoje, é um dia muito importante para os trabalhadores rurais deste Estado. Dona Raimunda representa o que tem de mais forte pela luta do campo. A terra é o instrumento mais importante para a geração de empregos para o homem rural.
Amanhã, vou levantar cedo e quebrar uma quarta de coco, para comprar comida, pensam, antes de dormir, as quebradeiras. É o modo de vida desse nosso povo que insiste em sobreviver.
Seu trabalho, hoje, tem garantido o equilíbrio ambiental. Não podemos deixar que as florestas sejam devastadas, se não, qual será o destino das quebradeiras extrativistas?
Uma das características mais importantes do povo do Bico do Papagaio, como Dona Raimunda, é insistir em se manter na terra. Muitos trabalhadores perderam a sua vida, entre eles padre Josimo. Mas ganhamos, com seu sangue, a fertilidade da terra para a luta pela reforma agrária. Ganhamos a idéia do que é resistir. O povo do Bico do Papagaio nos ensinou que, apesar da estatura física pequena, é grande a força de sua luta contra a pobreza e a violência no campo.