CPI deve apresentar relatório paralelo
Além do relatório público que deve ser apresentado até o dia 12 de julho, prazo final para a conclusão dos trabalhos, a CPI deve elaborar um relatório paralelo, contendo informações sigilosas, a ser entregue à Polícia Federal. Nele, estará contida uma série de investigações que a CPI não pôde concluir, devido à falta de equipe técnica e de tempo para apurar as denúncias. É um trabalho de inteligência que precisa de seis meses a um ano de investigações, explica o presidente da CPI, deputado José Santana (PT).
Segundo exemplificou, não devem entrar, no relatório público, informações como as que tratam da fazenda, investigada pelo Ministério Público de São Paulo, que é utilizada em um esquema de transporte de droga do Brasil para a Europa. O delegado paulista Luiz Ozilak Nunes da Silva é suspeito de comandar o esquema de transporte da droga de avião da Colômbia até a fronteira com o Brasil, segundo reportagem veiculada pelo Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão.
O relatório trará, por sua vez, as tarefas concluídas pela CPI em seus 11 focos de investigações, como os diversos núcleos para operação de narcotráfico no Estado, o tráfico que vem da Bolívia de caminhão, os entrepostos para a rota Colômbia-Europa e a existência de muitos plantios de maconha no Tocantins, caracterizando o Estado como uma extensão da região do Polígono da Maconha (que engloba alguns Estados nordestinos).
Os membros da CPI farão críticas às fragilidades históricas da polícia tocantinense em investigar o narcotráfico, o que tem possibilitado a existência de muitos entrepostos no Estado. Há presos com, por exemplo, 5Kg de maconha, que são considerados usuários, segundo o relatório que recebemos da Polícia Civil (PC). Ou, ainda, há presos em cidades diferentes por tráfico, que foram considerados primários em ambas, diz Santana.
Ele cita também como exemplo de facilidade os diversos habeas-corpus, concedidos a traficantes por desembargadores, desde 1999. Seis deles estão sob severa investigação da CPI. Os advogados da comissão irão visitar, até o fim desta semana, as comarcas dos municípios nos quais os traficantes libertos estiveram presos, para a aquisição dos processos. São eles Goiatins, Guaraí, Palmas, Porto Nacional, Gurupi e Peixe.
A CPI apresentará a primeira estatística feita pelas delegacias regionais das apreensões/prisões por porte de droga, fornecida pela PC. Lamentavelmente, conforme o presidente, tal estatística nunca havia sido feita antes da solicitação da CPI. A maior incidência de apreensões de entorpecentes acontece em Gurupi, segundo a PC, e de maconha, em Tocantinópolis. A região com maior movimento de tráfico é a do Bico do Papagaio, devido à proximidade com a cidade de Imperatriz (MA), aponta o petista.
Os aeroportos que vêm sendo utilizados como entrepostos nos últimos 10 anos também serão expostos pela CPI. O relatório irá contrabalançar a descrição de atividades políticas, empresariais e criminosas relacionadas ao narcotráfico.
Outrossim, serão explicitadas as denúncias recebidas e apuradas por Santana acerca de casos de negligência por parte de agentes da Polícia Federal. Eles acompanharam algumas abordagens de apreensão de drogas, mas que não geraram inquéritos policiais.
Testemunhas x políticos
Os membros da CPI recorreram ao Ministério da Justiça para que seja cedido o delegado Deuselino Valadares para auxiliar as atividades da comissão. A chegada de Deuselino possibilitará o depoimento das três testemunhas servidores públicos residentes em Palmas para que, então, Misilvan Chavier dos Santos, o Parceirinho, seja ouvido.
Os depoimentos dessas testemunhas são de vital importância, pois são eles que irão fomentar a formação da teia das ramificações políticas do narcotráfico no Estado, sob investigação dos deputados. O mundo só não cai, porque existem outros pilares, vaticina Santana.